LUCIANO VACARI

A terra do sol nascente

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A terra do sol nascente

Nos próximos dias uma comitiva de autoridades e empresários brasileiros vão encarar uma longa viagem até a terra do sol nascente com o objetivo de aumentar as relações comerciais entre os países. Chefiada pelo Presidente Lula, na bagagem muita expectativa dos setores da proteína animal e da indústria, ou seja, vender carne bovina e aviões.

Atualmente o comércio entre o Brasil e o Japão representa algo em torno de 11 bilhões de dólares, onde exportamos carne de aves, café, alumínio e minério de ferro, e de lá para cá chegam basicamente componentes eletrônicos, e aumentar a lista de produtos sempre foi o sonho de consumo dos empresários brasileiros, afinal o fato de ser um fornecedor de alimentos e produtos para o Japão é sinal de reconhecimento de qualidade e confiança.

No caso da carne bovina o Brasil tenta a anos essa aproximação, e sempre vinha a mesma desculpa, “não compramos carne bovina de países que tenham o status sanitário de livre de aftosa com vacinação!”. Foram missões e mais missões e sempre a mesma resposta.

Pois bem, então se é assim, vamos resolver o problema disse algum iluminado. Com a criatividade e objetividade do povo brasileiro, decidiram criar um audacioso plano de retirada da vacinação, ou seja, isso tornaria o Brasil apto a colocar sua carne na mesa dos japoneses. Nascia o Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa – PNEFA.

O trabalho estabelecido no plano deu certo e no próximo dia 29 de maio o Brasil receberá a classificação de área livre de aftosa sem vacinação da Organização Mundial de Saúde Animal – OMSA, o que colocará o país e nossos produtos em um outro patamar. Resolvido não?

Mas fica uma pergunta, será que o motivo do Japão não comprar nossos produtos seria mesmo esse?

Hoje, o país do sol nascente importa 80% da carne bovina que consome, principalmente dos Estados Unidos e da vizinha Austrália. Porém entre os seus fornecedores está também o Uruguai, que tem o status sanitário de área livre de aftosa com vacinação, estranho, não compram do Brasil e compram do Uruguai?

Mas voltando à missão comercial, dessa vez o cenário pode ser diferente. Existe todo um rearranjo político acontecendo. Os Estados Unidos sob a liderança do Presidente Trump mudaram deram uma chacoalhada no tabuleiro. As relações comerciais estabelecidas foram colocadas em cheque. A China ocupa cada vez mais seu papel de grande fornecedor e ao mesmo tempo grande mercado consumidor. A Rússia está cada dia mais preocupada em mostrar poder. A Europa enfraquecida e cheia de problemas internos.

Não seria uma oportunidade para os BRICS e para o MERCOSUL? Parece que sim.

Em bloco teríamos como negociar toda a nossa produção de bens e serviços além da produção dos nossos parceiros. Ganhamos volume, força e competitividade.

Nos resta confiar na habilidade política das nossas lideranças e na capacidade negocial dos nossos empresários. Que aproveitem as agendas para promover nossos produtos e demonstrar nossa capacidade de produzir qualidade. Enfim, que façam os melhores acordos. E depois, deixem os técnicos trabalhar para viabilizar os acordos.

A melhor sinalização disso seria que o Japão sinalizasse ao Brasil que mandará uma missão para avaliar nosso serviço de inspeção e nossas fábricas de produção de carne bovina. É isso que esperamos que venha na bagagem na viagem de volta.

Arigatô.

Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria