RODRIGO RODRIGUES

A nova caverna de Platão

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A nova caverna de Platão

Nunca estivemos tão dentro da caverna de Platão quanto agora — e isso é uma ironia histórica violenta. Porque Platão escreveu sua teoria há 2.400 anos, quando não existia televisão, cinema, videogame, TikTok, streaming, deepfake, YouTube, influencers, metaverso, filtros, IA visual, realidade aumentada… e ainda assim descreveu com precisão o mundo que vivemos hoje.

A TESE DE PLATÃO

Na alegoria da caverna, os homens viviam presos desde o nascimento dentro de uma caverna escura.

Atrás deles havia um fogo.

Entre o fogo e os prisioneiros, passavam objetos, figuras, estátuas.

O que eles viam?.

Apenas sombras projetadas na parede.

E essas sombras eram o mundo inteiro para eles.

Eles acreditavam que aquilo era a realidade total.

Quando um deles conseguiu sair e ver o mundo real, percebeu que tudo aquilo que acreditou por toda a vida eram apenas reflexos, distorções, ilusões.

E quando voltou para contar aos outros que lá fora existia o verdadeiro mundo…

riram dele.

Porque para os homens da caverna, a mentira era mais confortável que a verdade.

A ANALOGIA COM HOJE

Se Platão tivesse vivido em 2025, ele não precisaria metaforizar nada.

Ele só apontaria para:

• TikTok de 9 segundos que recorta a realidade em fragmentos sem profundidade

• vídeos editados para gerar gatilho emocional, ódio, indignação, “viral”

• algoritmos que selecionam o que você vê e o que você nunca vai ver

• filtros que transformam rostos, corpos, cenários

• deepfakes que tornam impossível distinguir fato de ficção

• influencers que constroem verdades emocionais, não factuais

• realidades políticas paralelas mantidas por bolhas digitais

E diria: a caverna venceu o mundo real.

Hoje não são sombras na parede.

São sombras em 4K, HDR, Dolby Vision, 3D, edição profissional, storytelling, indústria.

Antes a caverna era uma metáfora.

Hoje é uma tecnologia de massa.

Hoje, ver a realidade exige esforço

No mundo atual, informação não liberta automaticamente.

Informação pode aprisionar se for moldada, manipulada, convertida em narrativa emocional infinita.

O homem que tenta sair da caverna hoje — aquele que busca dados, fatos, contexto, nuance — é ridicularizado da mesma forma que o prisioneiro “iluminado” ridicularizado por Platão.

Hoje chamam de:

• “chato”

• “complexador”

• “teórico”

• “que complica”

• “do contra”

 Porque no mundo das sombras, quem pensa incomoda.

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A indústria do audiovisual é a nova política invisível

Hollywood, plataformas, creators, jornalistas militantes, publicitários, estrategistas digitais…

ninguém vende “coisa”.

Todos vendem percepção.

E percepção se tornou mais forte que verdade.

Não importa mais o que é.

Importa o que parece ser.

E isso… é Platão puro.

Conclusão

A teoria da caverna não era sobre filosofia abstrata.

Era sobre como o ser humano prefere a conveniência das ilusões ao desconforto da verdade.

Nós não apenas reeditamos a caverna.

Nós industrializamos a caverna.

Nós monetizamos a caverna.

Nós gamificamos a caverna.

Nunca o audiovisual foi tão poderoso.

Nunca a simulação foi tão superior ao real.

Por isso, dizer que hoje vivemos na caverna de Platão é quase tímido.

Hoje nós exportamos a caverna para o mundo inteiro — em streaming, em alta resolução, em velocidade global.

E a pergunta não é mais:

Existe vida fora da caverna?.

A pergunta agora é:

quantos ainda querem sair?.

Rodrigo Rodrigues é empresário, jornalista e graduado em gestão pública