Sentir profundamente, com a alma, é um dos atos mais desafiadores e transformadores que uma pessoa pode experimentar. Muitas vezes, a dor é vista como algo a ser evitado, mas, na verdade, ela funciona como uma mestra essencial para o crescimento pessoal.
Essa visão é compartilhada por Brené Brown, pesquisadora renomada que afirma que “a vulnerabilidade não é fraqueza; é a nossa medida mais precisa de coragem”. Reconhecer e aceitar nossas emoções, inclusive as mais difíceis, é fundamental para a expansão da consciência.
No processo de autoconhecimento, torna-se imprescindível identificar o que nos causa incômodo — o “espinho” interior — e aprender a liberar tudo aquilo que não nos pertence, seja uma palavra dolorosa, uma relação tóxica ou uma versão ultrapassada de nós mesmos.
Esse conceito dialoga diretamente com o trabalho do psiquiatra Carl Jung, que desenvolveu a ideia do processo de individuação. Jung destacou que “o confronto com a sombra — as partes rejeitadas da nossa personalidade — é essencial para o crescimento e a realização plena do ser”. É nesse confronto que transformamos a dor em aprendizado.
Além disso, Clarissa Pinkola Estés, autora de Mulheres que Correm com os Lobos, enfatiza a importância de “soltar tudo aquilo que domestica a alma para renascer com mais força e autenticidade”. Seu trabalho nos convida a escutar a sabedoria profunda do nosso instinto e a nos libertar de amarras que limitam nosso potencial.
Vale destacar que nem todas as pessoas ao nosso redor desejam nosso crescimento genuinamente. Algumas podem nos usar como escada ou escudo, causando dor que, embora difícil, é um passo necessário para fortalecer a autopercepção e a valorização pessoal. Assim, a coragem de sentir envolve também a decisão de preservar a própria integridade emocional.
A expansão da consciência, portanto, não oferece conforto imediato, mas revela verdades essenciais sobre nós mesmos. Enfrentar essas verdades, sentir a dor com coragem e sem vitimismo, é o caminho para a verdadeira evolução.
Chegará o dia em que palavras ofensivas serão apenas lembranças passageiras, levadas pelo vento. A alma, lavada por essa experiência, ganhará poder e serenidade, pois cada sentimento terá sido sentido em sua profundidade.
Soraya Medeiros é jornalista