Os dados divulgados pelo SPC Brasil em julho de 2025 são claros e alarmantes. Mais de 1,1 milhão de pessoas em Mato Grosso se encontram em situação de inadimplência, o que corresponde a quase metade da população do estado.
O volume total das dívidas acumuladas atinge a marca de R$ 6,2 bilhões, com um tempo médio de atraso que varia entre 2 e 3 anos. Individualmente, cada consumidor negativado no estado possui uma dívida média de R$ 5.479,40, considerando todas as suas pendências financeiras.
Um ponto de atenção é o crescimento contínuo do número de inadimplentes. Entre junho e julho de 2025, houve um aumento de 0,98%, o que se traduz em 11.089 novos devedores no estado. Essa elevação é superior à média do Centro-Oeste (0,78%) e significativamente maior que o índice nacional (0,23%) no mesmo período, evidenciando uma particularidade na dinâmica da inadimplência em Mato Grosso.
Perfil do Inadimplente Mato-Grossense
A análise do perfil dos inadimplentes em Mato Grosso revela que a maioria é composta por homens (53,66%), com uma idade média de 43,5 anos. A faixa etária mais impactada é a de 30 a 39 anos, que concentra 26,97% dos devedores, seguida pelas faixas de 40 a 49 anos (22,31%) e de 50 a 64 anos (19,08%). Em média, cada consumidor negativado deve R$ 5.479,40, considerando todas as pendências.
Setores Mais Afetados
O setor bancário se destaca como o principal responsável pelas dívidas em Mato Grosso, respondendo por 53,06% do total dos débitos. Esse dado sublinha a relevância do crédito bancário na vida dos mato-grossenses e, consequentemente, o impacto de seu não pagamento. Em seguida, aparecem o comércio (23,88%), as contas de água e luz (10,11%) e os serviços de comunicação (4,33%).
É interessante notar que, no comparativo anual, a participação das dívidas com bancos cresceu 8%, enquanto o setor do comércio registrou uma queda de 10,26%, indicando uma mudança na composição das dívidas ao longo do tempo.
O retrato da inadimplência
A reportagem mostra que o problema não se restringe a um grupo específico: ele atinge trabalhadores formais, informais, empreendedores e até aposentados.
As principais causas apontadas para esse cenário incluem:
• Baixa renda e alto custo de vida: o salário não acompanha a inflação e os reajustes de serviços básicos.
• Uso excessivo de crédito: cartão de crédito e empréstimos pessoais usados como “extensão” da renda.
• Falta de planejamento financeiro: ausência de um controle sobre entradas, saídas e compromissos futuros.
• Imprevistos não planejados: doenças, desemprego e emergências que desestabilizam o orçamento.
As consequências vão além do bolso
Quando quase metade de um estado está endividada, o impacto é coletivo:
• Economia local desacelera, pois menos pessoas consomem e movimentam o comércio.
• Empresas enfrentam calotes e precisam se adaptar com políticas de crédito mais rígidas.
• Famílias vivem sob pressão emocional, já que dívidas prolongadas afetam saúde mental, relacionamentos e produtividade no trabalho.
O que podemos aprender com esse cenário
Esse dado do SPC é um chamado à reflexão. Ele revela que a inadimplência não é apenas fruto de má gestão individual, mas também de um ambiente econômico que exige novas estratégias de sobrevivência financeira.
Entre as lições mais urgentes estão:
1. Educação financeira como prioridade – aprender a gerenciar recursos deve ser visto como habilidade básica.
2. Construção de reserva de emergência – mesmo que com valores pequenos, é o que impede que imprevistos virem dívidas.
3. Consumo consciente – diferenciar desejo de necessidade antes de assumir parcelas e financiamentos.
4. Planejamento de longo prazo – evitar viver apenas no “curto prazo” e pensar na estabilidade futura.
Hora de agir
O dado de mais de 1 milhão de inadimplentes em Mato Grosso não deve ser apenas uma estatística alarmante para circular na mídia — ele precisa servir como ponto de virada.
Quanto mais falarmos sobre dinheiro sem tabu, mais pessoas terão coragem de buscar soluções, reorganizar suas finanças e retomar o controle da própria vida.
Se você se reconhece nesse cenário, saiba: é possível sair das dívidas, mas o primeiro passo é encarar a situação de frente e buscar informação e orientação. Quanto antes agir, mais rápido será o caminho para recuperar a tranquilidade financeira.
7 passos práticos para sair das dívidas e recuperar o equilíbrio financeiro
1. Levante todos os números
Anote todas as dívidas (valor, juros, prazo e credor). Colocar tudo no papel ajuda a ter clareza e evitar surpresas.
2. Priorize as dívidas mais caras
Comece quitando aquelas com juros mais altos (como cartão de crédito e cheque especial). Negociar esses débitos primeiro evita que cresçam rapidamente.
3. Negocie condições melhores
Procure credores para renegociar prazos e juros. Muitas empresas oferecem descontos significativos em mutirões ou feirões de renegociação.
4. Revise gastos e corte excessos
Avalie cada despesa e elimine ou reduza o que não é essencial. Pequenos cortes somados podem gerar uma boa folga no orçamento, entenda que você terá que fazer um esforço maior para sair dessa situação.
5. Crie uma renda extra
Vender produtos, oferecer serviços ou até usar habilidades online podem gerar dinheiro para amortizar dívidas.
6. Construa uma reserva de emergência
Mesmo com pouco, comece a guardar. Uma reserva evita recorrer ao crédito em novos imprevistos e mantém o equilíbrio conquistado.
7. Procure ajuda
Conversar com um profissional de finanças ou participar de programas de educação financeira pode acelerar o processo. Ter alguém acompanhando ajuda a manter a disciplina e encontrar estratégias que talvez você não conheça.
Patrícia Capitanio, é Palestrante, Consultora financeira, sócia da empresa W1 consultoria Financeira, autora do Livro Consultório Lucrativo, com 17 anos de experiência no mercado financeiro